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Civis da segunda maior cidade preparados para enfrentarem russos
Mundo
Publicado em 02/02/2022

A situação em Kharkiv, cidade do leste da Ucrânia próxima da fronteira com a Rússia, parece particularmente perigosa, pois é um dos centros industriais do seu país, que inclui duas fábricas que restauram antigos tanques da era soviética e constroem novos.

No entanto, esta é também uma cidade fraturada, entre falantes de ucraniano e aqueles que se apegaram ao russo, que dominou até recentemente, ou entre aqueles que se voluntariaram com entusiasmo para resistir a uma ofensiva russa e aqueles que apenas querem viver a sua vida, revela uma reportagem da Associated Press (AP) divulgada hoje.

Em caso de invasão da Rússia à Ucrânia, cenários que os países ocidentais têm vindo a defender, alguns dos mais de um milhão de habitantes de Kharkiv garantem estar preparados para abandonarem as suas vidas civis e empreenderem uma campanha de guerrilha contra uma das maiores potências militares do mundo.

Estes esperam, de resto, que muitos ucranianos se juntem e façam o mesmo.

"Esta cidade tem de ser protegida", defende Viktoria Balesina, treinadora de ténis de mesa.

Balesina recorda-se de ter sido pressionada a participar em comícios pró-Rússia durante o movimento que surgiu em 2014 quando os russos invadiram a Ucrânia.

Aquele ano mudou a sua vida e esta falante de russo, nascida e criada em Kharkiv, mudou para o ucraniano e faz agora parte de um grupo de cerca de uma dúzia de mulheres que se reúnem semanalmente para instrução de defesa comunitária.

Entre o grupo está Svetlana Putilina, cujo marido é um capelão muçulmano nas forças armadas ucranianas.

Com determinação e sem demonstrar qualquer sinal de pânico, esta mulher, de 50 anos, tem preparados planos de emergência para a sua família.

"Se for possível e o nosso governo distribuir armas, nós pegaremos nelas e defenderemos a nossa cidade", assegurou.

No outro lado da cidade, Oleksandr Dikalo admite que sabe manobrar armas desde os seus dias de militar no Exército soviético, onde esteve destacado na Alemanha Oriental.

O agora dentista conta ainda que a sua mulher é médica no hospital de emergência de Kharkiv e que atende regularmente soldados ucranianos feridos no conflito na região ucraniana de Donbass, que resultou em cerca de 14.000 mortos entre 2014 e 2015, mas que atualmente ainda faz vítimas.

"Se Deus proibir que algo aconteça, devemos ficar de pé e proteger a nossa cidade. Devemos ficar de mãos dadas contra o agressor", garantiu o dentista, de 60 anos.

Uma guerra travada por uma guerrilha de dentistas, treinadores ou donas de casa, em defesa da sua cidade com mil abrigos subterrâneos, seria um pesadelo para os estrategas militares russos, refere um analista e oficial de inteligência norte-americano.

"Os russos querem destruir as forças de combate da Ucrânia. Eles não querem estar em uma posição onde tenham que ocupar terreno, onde tenham que lidar com civis, onde tenham que lidar com uma insurgência", aponta James Sherr, analista sobre estratégia militar russa, que testemunhou na semana passada perante uma comissão parlamentar britânica.

Em Washington há pedidos para que o Pentágono apoie uma potencial insurgência ucraniana.

Embora as forças russas sejam maiores e mais poderosas que as da Ucrânia, uma insurgência apoiada por equipamento e treino militar norte-americano impediria uma invasão em grande escala.

As agências de inteligência indicam que em caso de invasão, haverá uma resistência ativa de civis.

Os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais acusam Moscovo de ter concentrado mais de 100.000 soldados junto á fronteira com a Ucrânia na perspetiva de invasão do país vizinho.

O Kremlin tem sistematicamente negado essa intenção e coloca a questão em inquietações sobre a sua segurança, exigindo garantias como o não alargamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em particular à Ucrânia.

Qualquer escalada do conflito pode depender de Kharkiv, segundo admitiu recentemente o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy.

Esta cidade é ainda a base de Yevheniy Murayev, identificado pela inteligência britânica como a pessoa que a Rússia está a ponderar instalar como presidente.

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