Nós não precisamos de endividamento, precisamos de redução imediata de custos. Não precisamos, não queremos, não podemos e nenhum de nós está para pedir créditos", afirma aos jornalistas o empresário Paulo Maia, que não se compromete com o cenário de uma eventual paralisação do setor: "Vamos primeiro falar com as pessoas [os empresários reunidos hoje], ver o que elas acham e logo dizemos qual a solução que vamos ter de tomar". Esta posição é partilhada pelo empresário Mário Norte, que reclama a necessidade de "condições" para as transportadoras de mercadorias poderem trabalhar.
"[Paralisação?] Não o queremos fazer, queremos que as coisas sejam negociadas a bem. Precisamos de medidas imediatas para poder trabalhar, não conseguimos aguentar estes preços dos combustíveis e os nossos clientes não conseguem aguentar. Não é um problema só dos transportadores, é um problema do povo, de modo geral. Isto é uma cadeia e se nós aumentarmos [os preços], tudo vai aumentar e o consumidor final vai pagar", refere.
Sem ligações às associações setoriais, os cerca de 270 empresários, que representam pequenas, médias e grandes empresas transportadoras, garantem que vão pedir um encontro com o Governo para transmitir as suas reivindicações, com Paulo Maia a classificar a atual situação destas empresas como "incomportável" em termos financeiros.
"Vamos discutir medidas que o Governo tem de tomar imediatamente sobre o nosso setor. Financeiramente, com a escalada de preços e custos que estamos a pagar, não conseguimos tudo o que o Governo nos exige que temos de pagar. Toda a gente vai ter o direito de se expressar para chegarmos a um consenso daquilo que havemos de pedir ao Governo", frisa.
Questionado sobre um aumento dos preços destas empresas sobre os seus clientes, o empresário lembra que "uns aceitam e outros não", mas assume que tal será inevitável.
"Tem de haver reduções dos custos e, como é óbvio, tem de haver também o aumento do custo do transporte, quer os clientes gostem, quer não gostem. Têm de compreender, porque, de outra forma, isto vai parar. Continuamos a trabalhar, continuamos a levar os bens essenciais à mesa das pessoas e como é que temos dinheiro para o suportar?", questiona.
Por sua vez, Mário Norte evita avançar já com propostas ou ações e reitera a importância de assegurar ajuda do executivo, face aos "aumentos semanais sucessivos" dos preços dos combustíveis e com uma "ordem de grandeza elevada".
"Nós necessitamos de ajuda, não conseguimos trabalhar com um camião ao preço a que estão os combustíveis e nenhum cliente aguenta pagar o diferencial por isso. Não queremos complicar a vida às pessoas, queremos os nossos direitos e as nossas reivindicações ouvidas e atuadas. Precisamos de atuar já", finaliza, acrescentando que ao final da tarde já deverão ser conhecidas as reivindicações destes empresários.
O encontro de hoje acontece um dia depois de uma reunião da Associação Nacional dos Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram), que admitiu que a solução para a sobrevivência das empresas de transporte de mercadorias, face à escalada do preço dos combustíveis, passa por um aumento das tarifas.
Os transportadores rodoviários de mercadorias não foram abrangidos pelas medidas anunciadas pelo Governo para mitigar o impacto da subida dos preços dos combustíveis e que incluem, designadamente, a subida do desconto no Autovoucher de cinco para 20 euros e o prolongamento por mais três meses do apoio dado a táxis e autocarros (pagando agora 30 cêntimos por litro de combustível, em vez dos atuais 10).
Os preços dos combustíveis dispararam nas últimas semanas, tanto nos EUA como na Europa, atingindo os níveis mais altos da última década, devido aos receios de uma redução na oferta, provocada pela invasão russa da Ucrânia.
Em Portugal, o gasóleo sofreu na semana passada um agravamento superior a 14 cêntimos por litro, enquanto a gasolina ficou cerca de oito cêntimos mais cara.
A partir de segunda-feira, o preço por litro do gasóleo deverá subir 13,6 cêntimos e o da gasolina 9,3 cêntimos, segundo contas feitas pela Lusa com base nos números fornecidos pelo Governo para a redução do ISP.