A central foi ocupada pelo exército da Rússia no primeiro dia da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, tendo o local sido abandonado no final de março. As autoridades ucranianas não podem monitorizar os níveis de radiação em toda a zona porque os soldados russos levaram o servidor principal do sistema e a ligação foi cortada em 02 de março.
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) disse já que ainda não estava a receber dados remotos dos sistemas de monitorização.
Milhares de tanques e tropas ocuparam a zona de exclusão de Chernobyl, cerca de 2.600 quilómetros quadrados de floresta densa, nas primeiras horas da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, agitando o solo altamente contaminado do sítio onde, em 26 de abril de 1986, ocorreu a catástrofe.
A explosão do reator n.º4 da central de Chernobyl, situada a 120 quilómetros a norte de Kiev, junto à fronteira com a Bielorrússia, lançou para a atmosfera 200 toneladas de material com uma radioatividade equivalente a entre 100 e 500 bombas atómicas como as lançadas pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, no centro do Japão.
Ao longo de mais de um mês, soldados russos acamparam na terra à vista da estrutura maciça construída para conter a radiação do reator nuclear de Chernobyl danificado. Uma inspeção das trincheiras, deixadas em 31 de março, foi impossível porque mesmo caminhar sobre a terra é, desde do acidente, altamente desencorajado.
Os trabalhadores mantiveram os russos longe das áreas mais perigosas, mas a central ficou sem eletricidade, confiando em geradores a diesel para garantir a circulação de água essencial para arrefecer as varas de combustível nuclear usado.
"Era muito perigoso agir desta forma", disse o chefe adjunto da agência estatal gestora da zona de exclusão, Maksym Shevchuck.
Para a antiga líder do grupo dos Verdes no Parlamento Europeu Rebecca Harms, a invasão russa marca a primeira vez que a ocupação de uma central nuclear integrou a estratégia de guerra de uma nação.
Um "cenário de pesadelo", em que "cada central pode ser utilizada como uma bomba nuclear pré-instalada", considerou a antiga deputada europeia, que já esteve em Chernobyl várias vezes.
Agora as autoridades estão a trabalhar com o Ministério da Defesa ucraniano em formas de proteger os locais mais críticos de Chernobyl. No topo da lista estão sistemas antidrone e barreiras antitanque, juntamente com um sistema de proteção contra aviões de guerra e helicópteros.
As forças russas sobrevoaram a central, ignorando o espaço aéreo restrito à sua volta, ao mesmo tempo que mantiveram o pessoal da central a trabalhar num turno que se prolongou por mais de um mês, com funcionários a dormir em mesas e a comer apenas duas vezes por dia.
Semanas depois da partida dos russos, o principal engenheiro de segurança da central, Valerii Semenov, admitiu à agência de notícias Associated Press que ainda "precisa de se acalmar". Trabalhou 35 dias seguidos e dormiu apenas três horas por noite.
"Tive medo que eles instalassem algo e danificassem o sistema", disse.
Shevchuck disse acreditar que centenas ou milhares de soldados prejudicaram a própria saúde, provavelmente com pouca ideia das consequências, apesar dos avisos dos trabalhadores das fábricas aos comandantes.
A extensão total das atividades da Rússia na zona de exclusão de Chernobyl é ainda desconhecida, especialmente porque as tropas espalharam minas que os militares ucranianos ainda procuram. Algumas detonaram, perturbando ainda mais o terreno radioativo. Os russos também provocaram vários incêndios florestais, que foram extintos.
Em tempos normais, cerca de seis mil pessoas trabalham na zona, cerca de metade das quais na central nuclear. Quando os russos invadiram, foi dito à maioria dos trabalhadores para saírem imediatamente. Agora, restam cerca de 100 na central nuclear e 100 noutros locais.
Uma medida de proteção que os russos parecem ter tomado foi deixar em aberto uma linha de encaminhamento das comunicações da central nuclear através da cidade de Slavutych e para as autoridades de Kiev. Foi utilizada várias vezes, disse Shevchuck.
"Penso que eles entenderam que devia ser para a sua segurança", acrescentou.
A maior central nuclear da Europa fica em Zaporijia, no sudeste da Ucrânia, e continua sob controlo russo.