A primeira-dama Janja Lula da Silva surgiu com um terninho champanhe feito pela estilista Helô Rocha, em parceria com bordadeiras do Timbaúba, durante a posse do marido, o presidente Lula, neste domingo (1), em Brasília. No Rolls Royce presidencial, ela aparece com look bordado ao lado do marido e do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e a mulher dele, Lu Alckmin.
As roupas usadas por Janja e Lu foram consideradas acertadas e capazes de mandar recados importantes à população por especialistas em moda ouvidos pela reportagem. Segundo a pesquisadora e analista de moda Paula Acioli, “o look escolhido por Janja para a posse, assinado pela estilista Helô Rocha, um conjunto de pantalona, colete e blazer estruturado de seda, bordado com fibras naturais, reafirma sua vontade de inovar e sua preferência por grifes e temas nacionais”.
Paula chama atenção também para o fator inovação no modelito. "Ela inova vestindo conjunto de pantalona e blazer, em vez dos tradicionais vestidos formais de primeiras damas em posses presidenciais. Reafirma a vontade de, através da moda, valorizar o artesanato e a cultura nacional. Os simbolismos do traje parecem estar presentes em muitos elementos: desde a cor escolhida, que remete ao solo de muitas regiões do Nordeste brasileiro, ao contraste dos bordados de palha em tecido nobre como a seda. Uma sugestão de aceno à diversidade e à harmonia."
Para a stylist e consultora de moda Manu Carvalho, Janja entregou o que vem prometendo: a valorização da moda nacional e ser uma primeira-dama ativa. "Chama a atenção o fato de ela não estar de vestido, como é comum para as primeiras damas, e sim um terno - calça, colete e paletó -, o que a coloca lado a lado com Lula. Ela mesma já afirmou que seria uma primeira dama ativa", ressalta. "Também achei bacana o terno ser de seda, um material nobre e feminino - e tão ancestral quanto atual, tingido naturalmente."
A beleza da primeira-dama também recebeu elogios de Manu. "O rabo de cavalo no penteado também passa essa ideia de ação e trabalho, mais do que cabelos soltos", comenta. "A maquiagem também está elegante. Todas as suas escolhas foram muito corretas."
Rosanna Naccarato, professora de Projetos em Design de Moda do Senai Cetiqt, por sua vez, chamou atenção para a falta de ousadia. "Na esfera política, as mulheres têm, de um modo geral, receio de expressar seu lado feminino. O dress code pasteuriza a personalidade dela. Nada de ousadia", analisa.
A professora observa também que, ao subir a rampa vestida com os tons palha e dourado, ela se destaca por alguns minutos em contraste com o fundo do famoso tapete vermelho. "Observamos um terno diferente, mas tímido, com pantalonas de prega única, paletó/basque adornado de arabescos no costado e, em seus contornos, por folhas douradas, conferindo com um ar retrô à imagem dela. Nada ousado, quase clássico, não fosse a basque. Senti falta das diferentes texturas e volumes contemporâneos que fazem parte do trabalho de Helô Rocha", analisa. "O look poderia se destacar com acessórios em tons vibrantes, como o magenta. Mas, neste caso, vamos dar tempo para a nossa primeira-dama encontrar o seu caminho. "
A professora falou, ainda, sobre o vestido usado por Lu Alckmin, estilo “cape dress”. "É um modelo que surgiu em 2012 nas passarelas e, logo depois, ganhou os tapetes vermelhos e se tornou queridinho. Nada ousado, mas um clássico chique."
O vestido de Lu também recebeu elogios da pesquisadora Paula Acioli. "Ela escolheu um look mais tradicional, de acordo com seu estilo e personalidade. O modelo, que muito lembra algumas versões já vistas sendo desfiladas por celebridades em outros tapetes vermelhos, chama a atenção pela cor, o branco, que parece simbolizar o desejo de paz e harmonia para os próximos anos."
Janja tem sido entusiasta da moda nacional em todas as suas aparições públicas. Para o casamento com presidente Lula, em maio do ano passado, escolheu um vestido desenhado também por Helô Rocha, feito com bordados das mulheres de Timbaúba dos Batistas, na região do Seridó, no Rio Grande do Norte.
Na entrevista para o Fantástico, da TV Globo, uma semana após a vitória de Lula, Janja usou uma camisa de seda brasileira branca com estampas vermelhas assinada pelo estilista Airon Martin, da Misci. Os desenhos vermelhos remetiam à cor do tingimento do pau-brasil, e a peça fez tanto sucesso, que esgotou pouco depois de o programa ir ao ar.
A mesma marca da foi usada pela primeira-dama na diplomação do presidente, no dia 12 de dezembro, em Brasília, ocasião em que ela combinou blazer e saia da marca. Já para a visita ao presidente de Portugal, a socióloga usou uma saia plissada da marca Neriage.
Além do gosto por marcas independentes, ela também demonstrou prezar pelo conforto, durante a maior parte da campanha, em que pode ser vista combinando camisetas com mensagens políticas, calça jeans e tênis. "Ela é esperta, socióloga e sabe que pode, através da moda, criar uma identidade para o novo governo, e não um uniforme com regras e restrições, mas isto só com o tempo", afirma Rosanna Naccarato, professora de Projetos em Design de Moda do Senai Cetiqt.
Ela acrescenta que a natureza desta condição histórica de um terceiro mandato e o fato de tudo isso acontecer em meio à ascensão das mídias transforma cada instante público em um momento de comentários e compartilhamentos. "O que Janja vestir se algo torna repleto de significado. A primeira-dama se torna esse modelo contemporâneo que vai muito além da imagem."