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Maratona eleitoral de 2024: recorde de pleitos, campanhas tóxicas e ataques à democracia
Brasil
Publicado em 17/01/2024

Foi aberta a temporada eleitoral de 2024, marcada pelo recorde no número de pleitos: eleitores de mais de 50 países irão às urnas este ano, representando metade da população mundial.

Seria uma boa notícia, se o direito ao voto, por si só, assegurasse o reforço para a manutenção da democracia no planeta, mas não é o que acontece.

Em Taiwan, por exemplo, os eleitores demonstraram, pela terceira vez seguida, que não querem se submeter à China, ao escolherem o atual vice-presidente Lai Ching-te para governar a ilha.

 

A vitória de Lai, considerado um perigoso separatista por Pequim, antevê mais quatro anos tensos nas relações entre a ilha chinesa governada de forma autônoma desde 1949 e o continente. A dura derrota do presidente Xi Jinping foi acompanhada de um curto aviso do governo: “Taiwan faz parte da China.”

caucus republicano em Iowa deu a largada na segunda-feira (15) à maratona eleitoral nos EUA, que promete ser um repeteco de 2020, com Joe Biden e Donald Trump novamente à frente da disputa pela Casa Branca. Até a eleição, em novembro, haverá outra batalha paralela — a que o ex-presidente enfrenta nos tribunais, réu em 91 acusações distribuídas em quatro processos.

 

O volume e a gravidade dos crimes em que é acusado deveriam ser suficientes para minar as chances de Trump, mas ele se firma como o forte pré-candidato a ganhar a indicação republicana. As aparições do ex-presidente nos tribunais permitem que ele aproveite para encarnar o papel de vítima e sensibilizar a sua base.

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Trump passa Biden em pesquisas sobre eleições de 2024 nos EUA

 

A média das pesquisas do site FiveThirtyEight indica que a estratégia vem funcionando60,4% dos republicanos apoiam Trump, bem à frente de seus adversários, o governador da Flórida, Ron DeSantis (12,1%) e a ex-embaixadora da ONU Nikki Haley (11,7%).

Na disputa final, as pesquisas mostram o empate entre Biden e Trump, com uma diferença em relação a 2020: ambos são menos populares entre seus apoiadores, o que indica o desgaste do eleitor americano em relação ao processo eleitoral.

 

Se a campanha eleitoral se revela volátil e tóxica e representa um novo teste à democracia americana, o mesmo não se pode dizer de países onde a autocracia se arraigou e as cartas já estão definidas. As eleições da Rússia, em março, têm Vladimir Putin, há 20 anos, como vitorioso certo, já que os principais adversários foram varridos da cena política.

 

Venezuela ainda não marcou a data do pleito, onde, por enquanto, apenas o presidente Nicolás Maduro está no jogo e domina o processo. A ex-deputada Maria Corina Machado é a favorita entre os eleitores, mas até agora está inabilitada pelo regime para concorrer.

Com eleições legislativas marcadas para março — as primeiras após a convulsão social causada pela morte da jovem Masha Amini – o Conselho dos Guardiães do Irã já desqualificou pelo menos um terço dos candidatos, a exemplo de pleitos anteriores.

 

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, não deveria concorrer à reeleição, mas seus aliados do Tribunal Constitucional garantiram uma manobra que permitirá que ele, como claro favorito por sua cruzada contra a criminalidade, obtenha o segundo mandato em fevereiro.

 

Estas e outras distorções disseminadas por regimes autoritários atropelam claramente o jogo democrático. Servem para dar um verniz ao processo eleitoral, mas acabam, sempre, por minar a legitimidade dos vencedores.
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