O Tribunal de Falências de Nova York aceitou nesta sexta-feira (26) o pedido de recuperação judicial feito pela Gol. Com a decisão, credores ficam impedidos de obter bens ou propriedades da companhia aérea. A medida também suspende ações contra a empresa.
De acordo com a Gol, o objetivo do processo é reestruturar suas obrigações financeiras de curto prazo e "fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo". As dívidas da companhia são estimadas em R$ 20 bilhões.
Apesar do processo, a Gol informou que todos os voos estão operando conforme programado e todas as passagens aéreas e reservas permanecem em vigor. A afirmação foi reforçada pelo CEO da empresa, Celso Ferrer, em entrevista a jornalistas.
"O processo de reestruturação pretende otimizar a Gol para sustentar o crescimento. Não devemos reduzir as aeronaves em serviço. O foco é endereçar os passivos durante esse período e organizar o fluxo daqui para frente", afirmou.
De acordo com a companhia, o programa de fidelidade Smiles também não terá alterações e continuará disponível.
Reestruturação de dívidas
Na prática, a empresa acionou um instrumento legal nos Estados Unidos conhecido como "Chapter 11" (similar à recuperação judicial brasileira), utilizado pelas empresas para suspender a execução de dívidas e realizar reestruturação financeira e operacional.
O pedido foi feito no Tribunal de Falências dos EUA para o Distrito Sul de Nova York. Segundo o CEO da Gol, Celso Ferrer, a empresa optou pelo processo na Justiça norte-americana após recomendação dos advogados da companhia no país.
Mesmo com a medida, a Gol pode operar normalmente.
A companhia aérea também informou que garantiu US$ 950 milhões em financiamento para apoiar seus negócios, na modalidade debtor-in-possession (devedor em posse, na tradução livre) — uma espécie de empréstimo feito em ambiente de recuperação judicial.
Com a aprovação nesta sexta pela Justiça dos EUA, a companhia terá acesso a esses recursos.
O crédito será obtido por meio de um grupo de investidores "que já conhece a companhia", disse Ferrer. São membros do Grupo Ad Hoc de Bondholders (investidores que possuem títulos de dívidas) da Abra — holding que controla a Gol —, além de outros Bondholders da Abra.
"Juntamente com o caixa gerado pelas operações em curso, [o financiamento] fornecerá liquidez substancial para apoiar as operações, que seguem normalmente durante o processo de reestruturação financeira", concluiu, em nota, a companhia aérea.
O que levou a Gol ao pedido de recuperação?
Segundo analistas, a Gol tem números operacionais sólidos diante da boa demanda por viagens aéreas no Brasil. As altas despesas com leasing (contrato de aluguel de aeronaves) e juros, no entanto, têm pressionado seu fluxo de caixa e afetado seu perfil de dívida.
A companhia também enfrentou problemas de capacidade em meio a atrasos nas entregas de aeronaves da Boeing — o que, segundo o presidente-executivo da empresa, impediu que a Gol crescesse no ritmo que gostaria.
A Gol detinha 33% de participação de mercado na indústria de aviação brasileira no ano passado, perdendo apenas para a Latam Brasil — conforme definido pela receita de passageiros por quilômetro, que mede o tráfego.
Suspensão na bolsa de Nova York e rebaixamento
Em comunicado a investidores nesta sexta-feira, a Gol informou que a bolsa de valores de Nova York (NYSE) suspendeu a negociação das American Depositary Shares (ADSs) da companhia. ADSs sãoações de empresas não norte-americanas disponíveis na bolsa.
A companhia disse que não pretende recorrer da decisão.
Também nesta sexta, a agência classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota de crédito de longo prazo em moeda local e estrangeira da Gol de "CCC-" para "D".
As medidas são consequência do pedido de reestruturação pelo Chapter 11.