A prisão delegado Rivaldo Barbosa, apontado pela Polícia Federal como um dos autores da morte de Marielle Franco, surpreendeu a família da vereadora.
Rivaldo foi nomeado chefe da Polícia Civil do Rio em 2018, um dia antes do assassinato. Ele participou do início das investigações e, segundo inquérito da PF, atuou para evitar o esclarecimento do crime. Mas não só isso. A PF afirma que ele colaborou com o planejamento do crime e prometeu imunidade aos mandantes, os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Os três foram presos neste domingo (24). A defesa do delegado nega as acusações.
"A gente está um pouco surpreso, porque os nomes [dos irmãos Brazão] já tinham sido veiculados antes, mas a prisão do Rivaldo... Enfim, é muita coisa que passa pela nossa cabeça como família", disse a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, irmã de Marielle, em entrevista à GloboNews.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, disse que a família tinha uma relação de confiança com Rivaldo, e que o delegado prometeu a eles que esclarecia o crime.
"A minha filha confiava nele e no trabalho dele. E ele falou que era questão de honra elucidar [a morte da vereadora]. Por questões óbvias, porque a Marielle, além dele confiar, garantiu a entrada do doutor Rivaldo no Complexo da Maré depois de uma chacina para ele entrar e sair com a integridade física garantida", disse Marinete.
A foto abaixo mostra o delegado Rivaldo com os pais de Marielle e o ex-deputado Marcelo Freixo, de quem Marielle foi assessora, em abril de 2018, um mês após o assassinato.
Rivaldo Barbosa, então chefe de Polícia Civil, em reunião com a família de Marielle Franco. — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo
Em vídeo divulgado nas redes sociais, Freixo diz que a prisão de Rivaldo explica "porque ficamos seis anos sem saber quem mandou matar Marielle".
"É importante que a gente saiba que a Delegacia de Homicídios, durante esse tempo da Marielle, foi o verdadeiro escritório do crime", disse o ex-deputado.
'Tapa na cara'
A vereadora Monica Benicio, viúva de Marielle, lembrou que Rivaldo foi a primeira autoridade que recebeu a família da vereadora após o crime.
"Hoje saber que o homem que nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu e tem envolvimento nesse mando é para nós entender que a Polícia Civil não foi só negligente. Não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. A Polícia Civil não apenas errou, mas foi também cúmplice desse processo", disse Monica.
Ágatha Amaus, viúva de Anderson Gomes, motorista executado junto com Marielle, disse considerar um "tapa na cara" a prisão do delegado. "Ainda tem uma dor. A dor não vai passar nunca. É desesperador ainda, mesmo com algumas respostas ainda falta tanta coisa. É até difícil colocar em palavras. É dor, é luta”, disse Ágatha.