Ozempic, Victoza e Mounjaro são somente alguns dos remédios utilizados contra a diabetes 2 que também passaram a ser usados com o objetivo de perder peso. Mas com a busca das farmacêuticas por drogas mais eficazes na luta contra a obesidade, já há perspectivas de moléculas mais eficientes do que as primeiras formulações que chegaram ao mercado.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, até 2025, 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo devem estar acima do peso – sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade. Nesse cenário, remédios que auxiliam na perda de peso ganham espaço e popularidade.
Uma das substâncias cujos resultados foram os mais recentes a serem anunciados é a amicretina. Assim como a semaglutida (Ozempic e Wegovy), a liraglutida (Victoria e Saxenda) e a tirzepatida (Mounjaro), já aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a amicretina simula a ação de hormônios presentes no corpo humano. Ela atua regulando o apetite, trazendo maior efeito de saciedade.
Remédios contra obesidade e diabetes tipo 2 disponíveis. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1
Abaixo, nesta reportagem, você confere como atuam os seguintes remédios que podem levar à perda de peso:
Amicretina
- Perda de peso alegada: 13% ao longo de 12 semanas
- Modo de uso: comprimidos de uso diário
- Remédios: em fase de estudo, ainda não disponível em nenhum remédio
Ainda em fase de estudo, uma nova substância é apresentada com a promessa de ser mais efetiva do que a semaglutida usada nas canetas contra a obesidade: a amicretina.
Resultados preliminares do estudo realizado pelo laboratório Novo Nordisk (ainda não publicado em revista científica) apontaram que pessoas que fizeram uso da substância perderam em média 13% do peso corporal ao longo de 12 semanas. A farmacêutica concluiu a fase um do estudo no primeiro trimestre de 2024.
A redução de peso apresentada pela farmacêutica é superior à observada com a semaglutida. No mesmo período, ela resulta em uma perda de peso de cerca de 6%, como mostraram dados de um estudo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association).
Diferentemente dos medicamentos como o Ozempic, Saxenda e Wegovy, que são de aplicação subcutânea, isto é, com canetas injetáveis, a amicretina está sendo testada na forma oral.
A farmacêutica afirma que também está realizando estudos com o formato subcutâneo, com previsão de conclusão para 2025.
- Como funciona a amicretina?
O funcionamento da amicretina é semelhante ao de medicamentos como a semaglutida e a liraglutida. Isso porque todos imitam a ação de hormônios já secretados naturalmente pelo corpo.
Maria Fernanda Barca, endocrinologista e membro da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), explica que o diferencial da nova substância é que ela simula a ação de dois diferentes hormônios.
"Essa molécula parece se provar mais efetiva por agir de forma semelhante a dois hormônios – o GLP-1 e a amilina – que dão o efeito de saciedade de esvaziamento gástrico", comenta a endocrinologista.
No caso da semaglutida e da liraglutida, os medicamentos simulam somente a ação do GLP-1.
O GLP-1 é um hormônio secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro e estimula algumas células, diminuindo o apetite. Já a amilina é produzida no pâncreas e envia ao cérebro esses mesmos sinais que dão ao corpo uma sensação de saciedade. (veja no infográfico abaixo)
A amicretina simula o funcionamento de hormônios no corpo. — Foto: Ana Moscatelli/Arte g1
Ambos também têm um papel importante no controle da glicose e, por isso, podem também ser utilizados em medicamentos para tratamento de diabetes.
A vantagem dos medicamentos que simulam a ação do GLP-1 é sua durabilidade no corpo humano. Naturalmente, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio, fazendo com que a sensação de fome venha logo.
No caso das versões sintéticas, há uma resistência à ação da enzima DPP4, fazendo com que durem mais tempo no nosso organismo.
De acordo com a endocrinologista, a farmacêutica foi a primeira a sintetizar a amicretina com o objetivo de produzir um medicamento.
"Já era sabido que esses hormônios [GLP-1 e amilina] são capazes de promover o efeito de saciedade, mas essa combinação não havia sido estudada para promover a redução de peso", analisa.
Apesar do melhor desempenho apontado pelos resultados da fase 1, Maria Fernanda também pondera que o medicamento não deve ser tão efetivo quanto a tirzepatida, presente no Mounjaro.
"No caso do Mounjaro, há relatos de perda de peso acima de 20%. É muito difícil atingir esse patamar. A amicretina deve surgir como uma alternativa para aqueles que não tolerarem a tirzepatida", compara.
- Efeitos colaterais
Assim como os demais medicamentos existentes, a amicretina pode causar alguns efeitos colaterais. Segundo a farmacêutica, os efeitos adversos observados são muito semelhantes aos das demais substâncias com a mesma finalidade.
Náuseas e vômito são os principais relatados por aqueles que fazem uso de medicamentos como a semaglutida e a liraglutida.
Outros possíveis efeitos colaterais são:
- Diarreia;
- Constipação;
- Inflamação do estômago (gastrite);
- Refluxo ou azia;
- Dor abdominal;
- Dor de cabeça;
- Sensação de fraqueza e cansaço;
- Indigestão;
- Flatulência;
- Gastroenterite;
- Doença do refluxo gastresofágico;
- Cálculo biliar.
A endocrinologista também pontua que os efeitos colaterais variam muito de pessoa para pessoa. Ela também acrescenta que o formato do medicamento – seja subcutâneo ou oral – não influencia diretamente nas possíveis queixas.
"Tem pacientes que toleram muito bem a forma subcutânea e não vão sofrer com os efeitos adversos. Já outros vão se adaptar melhor a medicamentos de uso oral", analisa.
- Próximos passos do estudo
Com a conclusão da fase um do estudo, a amicretina se provou segura e bem tolerada por aqueles que fizeram uso da substância, o que permite o avanço da pesquisa.
De acordo com a Novo Nordisk, a fase um do estudo "visou avaliar a segurança e tolerabilidade da substância". Já na fase dois, a pesquisa deve abranger um número maior de pacientes, para confirmar a eficácia do medicamento antes que ele seja disponibilizado no mercado.
Segundo a farmacêutica, não há previsão de início da fase dois do estudo. Com relação à perspectiva de liberação do novo medicamento para uso, a empresa afirma que, de modo geral, os fármacos lavam em torno de dez anos para chegarem ao mercado depois do início das pesquisas.
Retratutida
- Perda de peso alegada: 24% ao longo de um ano
- Modo de uso: caneta de uso semanal
- Remédios: em fase de estudo, ainda não disponível em nenhum remédio
Também ainda em fase de estudos, o medicamento tem se mostrado um dos mais promissores na busca pela perda de peso, capaz de reduzir em um quarto o peso do paciente.
O remédio é muito semelhante a três hormônios do corpo que atuam para inibir o apetite. Aplicado por meio de uma caneta injetável, ele pode vir a se somar a outras que já estão no mercado.
A pesquisa com a substância ainda vai passar por uma nova fase, com previsão de conclusão para 2026.
- Como funciona a retratutida?
Assim como a amicretina, a retratutida é semelhante à semaglutida, a molécula mais famosa no tratamento da obesidade.
A retatrutida, no entanto, simula três hormônios:
- GLP-1: responsável pela sensação de saciedade;
- GIP: que melhora a secreção de insulina após uma refeição;
- GCG: que aumenta o nível de glicose no sangue.
É essa combinação que, segundo os especialistas, faz com que a perda de peso seja maior do que a proporcionada por os medicamentos que já estão no mercado, além de controlar a diabetes tipo 2.
Tirzepatida
- Perda de peso alegada: 20% ao longo de 36 semanas
- Modo de uso: caneta de uso semanal
- Remédios: Mounjaro e Zepbound
Considerada, atualmente, a substância mais efetiva na perda de peso disponível no mercado. A redução de peso com o uso do remédio chega a valores superiores a 20% em um período de 9 meses – como demonstraram dados de um estudo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association).
Como os demais remédios que geram perda de peso, a tirzepatida controla a glicose no sangue e proporciona uma sensação de saciedade, também simulando o funcionamento de hormônios no corpo.
Apesar de já ter seu uso aprovado pela Anvisa, o Mounjaro ainda não está disponível no mercado brasileiro por conta da alta demanda global. A previsão é que ele comece a ser comercializado ainda em 2024.
A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) definiu qual deve ser o preço do remédio no Brasil. A depender da concentração, e considerando o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), o medicamento pode chegar a custar mais de R$ 3.700 para o consumidor final.
- Como funciona a tirzepatida?
Da mesma forma que os anteriores, a tirzepatida simula a ação de hormônios no corpo. A substância é semelhante a atuação de dois hormônios:
- GIP: que atua na liberação de insulina, diminuindo o apetite e a glicose sanguínea;
- GLP-1: que atrasa o esvaziamento gástrico, promovendo a saciedade e diminuindo o apetite.
Os estudos que serviram de base para a aprovação do remédio junto à Anvisa apontam que o Mounjaro apresenta resultados superiores de controle da glicemia e de redução de peso quando comparado ao Ozempic.
Semaglutida e liraglutida
- Perda de peso alegada: 6% ao longo de 12 semanas
- Modo de uso: caneta de uso diário (liraglutida) e semanal (semaglutida)
- Remédios: Victoza e Saxenda (liraglutida); Ozempic e Wegovy (semaglutida)
Presentes em remédios como o Ozempic e o Saxenda, a semaglutida e a liraglutida são ainda as principais substâncias de canetas injetáveis utilizadas para tratamento de diabetes 2 – e que vêm ganhando espaço entre os pacientes que buscam perder peso.
Assim como os que foram estudados mais recentemente, medicamento reduz o apetite e dá a sensação de saciedade. Ele precisa estar inserido em uma estratégia de tratamento e ser administrado junto ao acompanhamento de um médico.
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- Como funcionam a semaglutida e a liraglutida?
Diferentemente dos remédios mais atuais, a semaglutida e a liraglutida simulam o funcionamento de somente um hormônio do corpo: o GLP-1.
Naturalmente, esse hormônio é secretado principalmente pelas células do intestino. Ele vai até o cérebro, no hipotálamo, e estimula algumas células, diminuindo o apetite.
Contudo, o GLP-1 tem um tempo de vida curto. A DPP4, uma enzima produzida pelo nosso organismo, acaba rápido com o efeito do hormônio, fazendo com que a sensação de fome ocorra rápido. No caso dos medicamentos que simulam a ação do hormônio, há uma resistência à ação da enzima DPP4, fazendo com que durem mais no corpo.