O Congresso dos Estados Unidos incluiu no pacote bilionário de ajuda militar à Ucrânia, Israel e Taiwan uma norma proibindo o envio de recursos pelo governo americano para a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês).
A decisão polêmica foi incluída por pressão de congressistas conservadores e recebeu muito pouco destaque em relação aos US$ 95 bilhões em ajuda militar e financeira para os aliados dos americanos.
A agência é responsável, desde 1949, pela maior parte da ajuda destinada aos refugiados palestinos não apenas na Faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia, Líbano, Síria e Jordânia.
A UNRWA administra centenas de escolas, hospitais e centros de distribuição de alimentos para os milhões de palestinos que viraram refugiados depois da criação do Estado de Israel.
A decisão do Congresso americano acontece no momento mais agudo da crise humanitária na Faixa de Gaza, com a ONU alertando que a fome é uma realidade no território e que milhares de pessoas correm risco de morrer de inanição.
Por conta disso, o pacote americano inclui US$ 9 bilhões em ajuda humanitária, mas é um contrassenso não enviar parte desse dinheiro para a agência que opera de melhor forma no território – e que já tem toda a estrutura para distribuição dessa ajuda.
Ao ignorar a agência, uma parte dos US$ 9 bilhões (metade do que foi destinado em ajuda militar a Israel) será inevitavelmente consumida no custoso estabelecimento de uma rede paralela de distribuição dos recursos.
Procurada por este blog, a agência disse que “a decisão do Congresso dos EUA de proibir o financiamento até Março de 2025 cria uma grande lacuna no orçamento operacional anual, tornando mais difícil para a UNRWA ajudar os famintos” na Faixa de Gaza.
Polêmicas envolvendo a agência
A agência foi envolvida em polêmicas recentes, mas sofre com uma grande oposição do governo de Israel há anos.
O governo israelense vê a instituição como um instrumento que chama a atenção para os refugiados, perpetuando uma crise que nunca foi resolvida.
A questão dos refugiados, que foram expulsos de áreas onde viviam antes da criação de Israel, é um dos pontos mais polêmicos de todas as discussões que já aconteceram sobre um possível acordo de paz entre os dois lados.
A mais recente crise, no entanto, veio logo depois do início da guerra na Faixa de Gaza, quando Israel afirmou que funcionários da agência teriam ajudado o Hamas nas atrocidades cometidas no dia 7 de outubro do ano passado.
A agência abriu uma investigação e afastou pelo menos 12 funcionários – dos seus mais de 30 mil colaboradores.
Muitos deles, no entanto, retornaram com a ajuda depois das investigações internas da agência e das punições aplicadas a alguns acusados de ajudar o Hamas.
É o caso dos governos da Austrália, Canadá, Finlândia, Alemanha, Islândia, Japão e Suécia, que levantaram as respectivas suspensões de financiamento.
O dinheiro americano, no entanto, vai fazer falta, já que ele é responsável por 87% de todos os recursos atualmente suspensos.
Com as restrições impostas, a agência tem orçamento para continuar operando apenas até o fim de junho de 2024.
Isso coloca em risco o funcionamento de hospitais e escolas em vários territórios, além, claro, da distribuição de alimentos em Gaza.