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Coletivo carioca de moda autoral traz evento a Salvador que marca calendário nacional
06/07/2024 17:51 em Brasil

De moda praia à moda festa, estilo e talento baianos ganham os holofotes nacionais neste fim de semana. Salvador entra para o calendário brasileiro da moda com a chegada do evento Carandaí 25, criado pelo coletivo carioca de mesmo nome que valoriza peças autorais e feitas à mão por pequenas marcas.

 

É o caso do Rey Vilas Boas, um ateliê no bairro de Narandiba, em Salvador, que vai completar um ano em agosto - apesar de já existir na casa do estilista Rey Vilas Boas há 12 anos. Encontrado através da curadoria do Carandaí 25, ele vai participar do evento deste fim de semana expondo peças para venda e vestindo modelos do desfile que integra a programação do domingo (7).

O evento, que acontece no Shopping da Bahia nos dias 6 e 7, coloca Salvador como porta de entrada do coletivo carioca na região Nordeste. São 45 expositores, sendo 16 deles baianos. As opções compõem um mix de produtos: colares, brincos, braceletes, bolsas, sapatos, panos, cangas, moda casual, moda festa, moda praia. E de materiais: resina, ferro, latão, seda, algodão, linho, jeans.

Para a ocasião, Rey terá cerca de 15 peças no desfile e 20 peças expostas. A marca tem como foco a sustentabilidade, transformando partes de itens antigos doados ou garimpados em brechós em um produto novinho em folha. Aos sábados, no ateliê, acontece o “Desapego”. As clientes que chegarem à loja com peças usadas ganham até 30% de desconto nas compras.

“Trabalho ao lado do meu companheiro e de mulheres da minha comunidade. Tudo é feito com muito cuidado, prezando pela memória afetiva e pela história que cada peça carrega”, destaca o estilista.

As outras marcas baianas participantes são: Inttuí, Vry Company, Leila Daltro, Le Parfait, Eyde Dantas, Amará, Somos Dua, Vuá, Aka – Bem Estar, Larah Aromas, Shanti, Terê, Bianca Tourinho, Irokó Atelier e Adriane Agudo.

O evento

 

Rey divide com as demais marcas uma loja de 1.300 metros quadrados. Além das exposições, no sábado (6) haverá uma oficina de arranjos florais e, no domingo (7), além das exposições e do desfile, haverá um bate-papo sobre sustentabilidade na moda. Desta última atividade participa a jornalista e ilustradora Gabriela Cruz, editora de conteúdo de projetos no Estúdio Correio e criadora do evento “De Tudo que Eu Vejo”.

“O cenário da sustentabilidade na moda hoje é mais urgente do que nunca por conta das consequências que a produção excessiva de itens, o consumo e descarte descontrolados trazem para o meio ambiente e, consequentemente, nossa existência na Terra. Como jornalista, sinto que não vale mais apenas falar de tendência ou do desfile e coleção de tal marca sem falar de sustentabilidade porque a moda, do ponto de vista de expressão, tem tudo a ver com nossas escolhas individuais e coletivas”, afirma Gabriela.

A curadora, Tati Accioli, destaca que esse tipo de iniciativa coloca em foco um dos grandes princípios da Carandaí 25: conectar as duas pontas, quem produz e quem compra. “Queremos expandir essas conexões por todo o país. Depois de oito anos no Rio de Janeiro, chegamos este ano a São Paulo. Temos agora esse evento em Salvador e, em seguida, vamos levá-lo a Manaus em setembro”, diz Tati, que é diretora-fundadora do movimento.

Tati Accioli
Tati Accioli Crédito: Divulgação/Carandaí 25

A iniciativa no Shopping da Bahia vai funcionar como um medidor para o coletivo, que quer incluir a capital baiana na lista de pontos fixos para os festivais anuais. “Estamos definindo qual espaço na cidade pode nos receber e qual será a data, mas, com certeza, será durante o verão”, adianta Tati.

Carandaí 25

As marcas baianas agradecem. O que une todos os nomes parceiros da iniciativa é a forma de venda — varejo — e de produção, que vai na contramão da velocidade das grandes empresas que fazem parte da chamada indústria da moda. E, se para fazer com cuidado, responsabilidade e personalidade é preciso se manter pequeno, uma rede de apoio se mostra fundamental.

O Carandaí 25 funciona como um coletivo, cuja missão é acelerar e dar visibilidade às marcas parceiras. São cerca de 600 por todo o país. Num esquema que une rodízio e seleção, as marcas podem fazer parte do catálogo do site de vendas (www.carandai25.com) e das duas lojas físicas: Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, e Shopping Villa Lobos, em São Paulo.

 
Lojas físicas estão localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo
Lojas físicas estão localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo Crédito: Divulgação/Carandaí 25

Tudo começou há 12 anos, na casa de Tati Accioli, que fica na Rua Carandaí, número 25; por isso o nome escolhido. “Eu estava numa crise profissional e vi que a lacuna no mercado para esse tipo de negócio poderia ser uma boa oportunidade”, lembra a diretora-fundadora.

A designer Anna Karina Lins, de 57 anos, se beneficiou da iniciativa. Diretora-criativa da marca carioca Annaka, de bijoux com técnica de joalheria, ela ingressou no time da Carandaí 25 há nove anos, participando de um evento do coletivo no Rio de Janeiro. São festivais, workshops, showrooms e pop-ups.

“Essa parceria foi e é muito importante. Cheguei a levar a Annaka para Paris com o coletivo. Esses eventos são fundamentais porque é neles que eu consigo ter contato com meus clientes, já que não fico no quiosque do Shopping Leblon porque estou sempre no ateliê produzindo”, diz Anna Karina Lins.

A marca conta com um total de 20 colaboradores, somando as equipes de ourives, vendedores e o pessoal do marketing e financeiro. “É uma equipe pequena e se mantém assim porque é dessa forma que conseguimos ser autorais e produzir pensando diretamente no cliente final”, coloca.

Ela conta que recebe os materiais em latão para dar o banho de ouro, possibilitando o barateamento do produto sem a perda de qualidade e de sofisticação. Para o evento em Salvador, do qual também vai participar como expositora, Anna Karina promete peças variadas, com estilo que vai “da feira à festa”, entre R$180 e R$1.500.

Tendência

 

Anna Karina Lins afirma que segue o contrafluxo da maioria do mercado e que a moda autoral é uma tendência que ainda precisa de espaço. “A maioria das marcas fica ligada nas grandes referências para copiar. É como uma fórmula. Mas isso satura. Acho que temos, sim, uma demanda diferente agora vinda dos clientes”, avalia.

Tati Accioli concorda. “A moda se perdeu durante um momento, dominada pela lógica da velocidade e dos calendários loucos. Mas o cliente hoje está pedindo justamente aquilo que é a missão e o propósito da Carandaí 25, que é olhar para as marcas nacionais, sustentáveis e acessíveis que têm personalidade e buscam realmente expressar comportamentos através da moda”, finaliza a diretora-fundadora do movimento.

Serviço:

O que: Carandaí 25

Onde: 3º piso do Shopping da Bahia, Salvador

Quando: Dia 6 de julho, das 9h às 22h, e 7 de julho, das 13h às 21h

Acesso: gratuito

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