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Onde comer em Estocolmo: de estrelados a restaurante do século 18
Brasil
Publicado em 07/09/2024

Costumo dizer que a Escandinávia é um território repleto de surpresas, onde a mistura de seus povos e paisagens resulta em descobertas fascinantes. E Estocolmo é uma representação fiel disso. Mas a capital da Suécia vai além ao nos revelar uma cena gastronômica de tirar o chapéu.

Depois de percorrer algumas das principais atrações da cidade para a 7ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia, chegou a hora de apreciarmos a gastronomia de Estocolmo, com restaurantes que vão dos estrelados aos tradicionalíssimos.

Independente dos endereços, uma coisa é certa: eles resgatam tradições nórdicas e suecas e colocam ingredientes locais – sazonais e bem trabalhados – no centro da mesa.

De mercadão a brasserie, passando por casas estreladas pelo Guia Michelin (são 12 no total) até um restaurante que funciona no mesmo local desde 1722, confira abaixo uma seleção deliciosa para saciar seu desejo de onde comer em Estocolmo.

Onde comer em Estocolmo:

Mercado municipal: ingredientes e tradições

Daniela Filomeno no mercado de Ostermalmshallen, em Estocolmo
Östermalm Market Hall reúne comerciantes familiares e restaurantes de peixes e frutos do mar • CNN Viagem & Gastronomia

No distrito de Östermalm surge um edifício de tijolos que soma mais de 130 anos de história. Falo do Östermalm Market Hall, espécie de “mercadão” de Estocolmo, inaugurado em 1888. Seu diferencial está nos comerciantes: são 18 deles, em que a grande parte é gerida por famílias, com estandes que atravessaram gerações.

Aqui nos deparamos – e nos deliciamos – com os mais diferentes tipos de produtos. Imagine queijos, carnes, peixes, frutos do mar e doces típicos lado a lado. Um giro no mercado nos revela ovas locais, carne de rena e diferentes tipos de lagostas.

Sentar e apreciar alguma iguaria é irresistível. Isso porque os melhores restaurantes de peixe da cidade ficam aqui, assim como há bares, delicatessen e cafés para completar a experiência. Minha dica é olhar o cardápio e sentar em uma mesa – ou balcão – que mais te apeteça. Por aqui, aproveitei ovas, salmão curado e ainda provei um bacalhau fresco feito no vapor que se desfez em lascas.

As lojas do Östermalm Market Hall abrem de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 19h, e de sábado, das 9h30 às 17h. Os restaurantes abrem à noite, e o recomendado é ficar de olho nos sites próprios.

Tradicionais e modernos

Já imaginou um restaurante que acumula mais de 300 anos de história e, tudo isso, sem sair do mesmo endereço? Assim é o Den Gyldene Fredenum dos restaurantes mais antigos do mundo, em funcionamento no centro antigo de Estocolmo desde 1722. O local é acolhedor e se assemelha a uma grande casa medieval, com diferentes cantinhos.

Da cozinha saem pratos sazonais e a dica é ficar de olho no clássico arenque, assim como nos cogumelos da temporada e na maionese com camarão – melhor acompanhados de uma dose de snaps, bebida alcoólica tradicional da Escandinávia que é boa desculpa para equilibra a gordura. Quer mais uma curiosidade? A casa é propriedade da Academia que faz os votos do Prêmio Nobel de Literatura, logo, suas paredes são testemunhas de várias decisões importantíssimas ao longo dos séculos.

Para equilibrar, uma ótima pedida para uma refeição em ambiente descolado e moderno é a Brasserie Astoria, daqueles lugares descomplicados com comida boa e serviço cordial. Não é para menos: é o mais recente empreendimento do chef Björn Frantzén, por trás do três estrelas Frantzén (conto mais abaixo).

Ocupando um antigo cinema, o charmoso local nos serve delícias francesas e italianas, como a salada caesar preparada na mesa e o filé mignon flambado com conhaque. Steak tartar, pizza de trufas de massa fina e crocante e linguini com frutos do mar também são alguns dos itens. Pratos do dia são oferecidos durante a semana e há brunch aos fins de semana – e vale ficar de olho no bar principal para coquetéis clássicos.

Já em Södermalm, o Café Nizza é um endereço de pegada despretensiosa que vale uma visita. Influenciado pela culinária francesa e pelos sabores suecos, o menu enxuto tem pratos que vão dos snacks às massas e aos principais. Por 695 coroas (R$ 380) temos direito a entrada, massa e sobremesa. Um dos itens mais tradicionais é o cacio e pepe, feito com massa de pão azedo, e o ideal é ter uma taça vinho tinto em mãos, como fiz.

“Eu queria um restaurante que se conectasse com a comunidade onde estamos, que ele vivenciasse e se desenvolvesse junto com a comunidade”, conta Johan Agrell, chef e proprietário do Café Nizza. Por isso ele abre todos os dias da semana, assim como para almoços nos fins de semana. E para quem não conseguir uma mesa, a alternativa é o Cave Nizza, wine bar vizinho.

Restaurantes estrelados em Estocolmo

Vieira norueguesa com caviar do restaurante Ekstedt
Vieira norueguesa direto do carvão servida com caviar no restaurante Ekstedt • CNN Viagem & Gastronomia

Para saborear a cozinha nórdica moderna, um bom começo é reservar uma mesa no Aira, restaurante duas estrelas Michelin em uma localização idílica de frente para o Mar Báltico – uma das maneiras de chegarmos aqui é de barco. Os chefs suecos Tommy Myllymäki e Pi Le focam em ingredientes sazonais e nos servem pratos com técnicas internacionais. Para mim, foi uma das melhores refeições da viagem.

A casa supermoderna tem janelões para a água, fazendo com que a proximidade da natureza seja fator relevante na experiência. No interior, a “mesa do chef” é um dos melhores lugares para vermos a dança da cozinha, de onde sai um menu-degustação no almoço e no jantar por 3.250 coroas suecas (cerca de R$1.784).

A refeição pode começar com um canapé de crosta de endro recheado com lagostim e picles de cebola. Podem aparecer ainda truta do Ártico defumada com chanterelle e feijões com tuille de cogumelos e peito de codorna com alho-poró crocante. Um cardápio mais curto e pré-fixo também é servido nos almoços de quinta e sexta por 1.850 coroas (cerca de R$ 1.000).

Já próximo ao Östermalm Market Hall fica o Ekstedt, com uma estrela e pilotado pelo chef Nikolas Ekstedt. Ele nos faz uma indagação: como era feita a antiga culinária sueca? A resposta está no fogo. “Queríamos abrir um restaurante dedicado às técnicas culinárias da Escandinávia”, me conta o chef, que usa técnicas escandinavas antigas para preparar uma comida contemporânea com ingredientes sazonais.

O primeiro prato que experimentei foi uma vieira cozida diretamente no carvão, sem panelas. A vieira norueguesa foi colhida a mão e o carvão sueco não tem químicos, queimando lentamente. A ideia é caramelizar a vieira por fora para que o meio ainda esteja cru. “Uma das grandes coisas que encontrei quando comecei a trabalhar com ingredientes escandinavos é que nós não usávamos o fogo como uma grelha. Usávamos alta temperatura, rápida. Assim selamos e servimos bem rapidamente”, diz Nikolas.

Outro prato interessante é a ostra cozida na gordura da carne. “Antigamente, na Escandinávia, não comíamos ostras cruas, mas sim cozidas, e as cozinhávamos embaixo da rotisseria. Enquanto assávamos a carne, cozinhávamos as ostras”, explica o chef. Definitivamente uma experiência interessante, o local serve um menu fechado por 2.600 coroas (cerca de R$ 1.427).

 

Já o único três estrelas Michelin de toda a Suécia é o Frantzén, em Gamla Stan, o centro antigo. O chef Björn Frantzén está por trás da empreitada, que se espalha por 23 assentos, três andares e 521 m². À nossa mesa chegam pratos que misturam a cozinha nórdica com técnicas clássicas e modernas. Combinações com peixes, frutos do mar e especiarias são para lá de apetitosas e um mesmo menu fixo com diversas etapas é servido no almoço e no jantar por 4.800 coroas suecas (cerca de R$ 2.636).

Mais dicas de onde comer:

  • Italiano: O Ristorante Paganini, em Gamla Stan, serve massas desde 1995. Aqui ganham mesa os tradicionais rigatoni, carbonara, risoto de funghi, assim como burrata, carpaccio e brusquetas, pratos servidos em um ambiente casual com toalhas quadriculadas;
  • Café e almoço em jardim: o restaurante do jardim público Rosendals Trädgård, na ilha de Djurgården, onde fica a maioria dos museus, é opção para almoços, sanduíches e doces da época. São usados vegetais biodinâmicos de produção própria e pães artesanais, tudo servido dentro da estufa ou no pomar. Há ainda opção de vinhos, cervejas e limonadas;
  • Bistrô moderno: O Matbaren, no Grand Hôtel, é um bistrô moderninho na seleção Bib Gourmand do Guia Michelin. Liderado pelo chef Mathias Dahlgren, os pratos têm tamanho médio e se beneficiam de ingredientes sazonais que resultam em sabores escandinavos – o balcão é ideal para uma visão da cozinha aberta;
  • Frutos do mar: aberto ainda no século 19, o Sturehof é uma brasserie clássica de claras influências francesas que foca em frutos do mar. Pense em ostras, lagostas, camarões, salmão e tamboril, mas também em coelho e entrecôte.
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