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Polícia Federal faz operação contra família suspeita de provocar ‘muralha de fogo’ no Pantanal
Brasil
Publicado em 12/10/2024

A Polícia Federal deflagrou uma operação na manhã desta quinta-feira (10) em Corumbá (MS) contra investigados por provocar um incêndio no Pantanal que ganhou grandes proporções e ficou conhecido como “muralha de fogo”.

O episódio, ocorrido em junho, ficou famoso no Brasil por conta de imagens que mostram as festividades do São João de Corumbá sendo realizadas com uma "muralha de fogo” ao fundo, na divisa com a Bolívia.

Chams atingiram Corumbá em junho de 2024 — Foto: Reprodução

Chams atingiram Corumbá em junho de 2024 — Foto: Reprodução

 

Foram expedidos mandados de busca e apreensão para seis pessoas de uma mesma família, acusada de ter iniciado o incêndio em uma área de propriedade da União. Um sétimo integrante da família também é investigado, e está preso preventivamente por outro crime.

Durante as buscas, um dos alvos da operação foi preso em flagrante por posse ilegal de arma de fogo e outro conduzido até a delegacia da Polícia Federal.

Material apreendido durante a Operação São João — Foto: Polícia Federal

Material apreendido durante a Operação São João — Foto: Polícia Federal

g1 tenta contato com a defesa deles.

Segundo a investigação, a família explora ilegalmente a região para a criação de gado. Um dos motivos para atear fogo é justamente para realizar o manejo do gado, pois elimina a mata seca acumulada que não é consumida pelos animais e proporciona o crescimento de uma vegetação nova.

 

Segundo a PF, o fogo começou em 1º de junho e se estendeu, causando estragos em uma área estimada de 6,5 mil hectares.

Uma fonte ouvida pelo g1, no entanto, estima que, se somadas as queimadas em território boliviano, a área total atingida pelo incêndio passe de 30 mil hectares.

Investigação da Polícia Federal em área atingida por incêndios em Corumbá (MS) — Foto: Divulgação

Investigação da Polícia Federal em área atingida por incêndios em Corumbá (MS) — Foto: Divulgação

Ainda de acordo com a polícia, o incêndio na região permaneceu com focos ativos e teve ápice na época da festa de São João, nos dias 21 e 23 de junho.

Imagens de satélites identificaram queimadas em áreas de propriedade da União, em uma Área de Proteção Permanente do Rio Paraguai e em terras devolutas (que são terras públicas geralmente destinadas à preservação ambiental e defesa de fronteiras).

 

Ao apurar a origem do fogo, a Polícia Federal se deparou com outros possíveis crimes e passou a investigar o uso de terras da União para a criação de gado e a suspeita de contrabando de bois da Bolívia, além de ter encontrado um trabalhador em uma condição com indícios de ser análoga à escravidão.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Muralha de fogo dos incêndios no Pantanal contrasta com o Banho de São João

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Investigação

 

Ainda em junho, a Polícia Federal recebeu uma denúncia anônima relatando que o filho de um pecuarista da região conhecido como Capim teria sido responsável por colocar fogo nas margens do Rio Paraguai.

 

A Polícia Federal apurou que Capim é a alcunha de Carlos Augusto Alves Martins, filho de Carlos Augusto Borges Martins, conhecido como Carlinhos Boi e apontado como o único pecuarista da região.

Carlinhos Boi também é pai dos demais investigados: Antônio Carlos de Borges Martins (Poré), Carlos Roberto Alves Martins, Damião Alves MartinsCarlos Francisco Alves Martins e Carlos Antônio de Borges Martins.

Incêndio que atingiu Corumbá (MS) em junho de 2024. — Foto: Divulgação

Incêndio que atingiu Corumbá (MS) em junho de 2024. — Foto: Divulgação

Os sete são investigados, mas os mandados de busca e apreensão desta quinta não incluem Poré, que está preso preventivamente pelo homicídio de um desafeto durante uma briga no carnaval do ano passado.

Entre os crimes investigados estão:

 

 

  • Provocar incêndio florestal;
  • Reduzir alguém a condição análoga à de escravo;
  • Ocupar terra da União;
  • Falsidade ideológica documental; e
  • Associação Criminosa.

 

 

Análise via satélite

 

De acordo com a investigação, um laudo pericial de imagens de satélite foi feito para detectar alteração na área atingida pelas chamas e o aumento da presença de rebanhos bovinos entre os anos de 2020 e 2024.

Região atingida por incêndios em Corumbá. — Foto: Arte/g1

Região atingida por incêndios em Corumbá. — Foto: Arte/g1

O laudo aponta que há "grande desproporcionalidade entre os bovinos registrados em nome de Carlinhos Boi e a extensão de sua propriedade" e que essa disparidade “indica a utilização de áreas para além dos limites do Retiro Tamengo”, que é a propriedade registrada em nome dos investigados, num indício de que usam também áreas públicas para movimentação de gado, além de haver a “suspeita de que esse gado sequer é proveniente do Brasil, sendo contrabandeado da Bolívia".

 

Sobre o incêndio, uma testemunha ouvida disse à polícia que os investigados atearam fogo "com o objetivo de tirar a vegetação mais alta, facilitar a visualização do gado e manter uma área com pastagem no local".

Segundo indícios, as áreas investigadas pela polícia são rotineiramente alvo de incêndios “provocados com o intuito de queimar os capins nativos para que o gado se alimente”.

A propriedade, no entanto, está registrada no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Sural (Sicar) no nome de Antoninha Alves de Souza, mas o CPF registrado é de Carlos Augusto Martins, o Carlinhos Boi, que já possui inquéritos policiais por crimes ambientais e por manter trabalhadores em condições análogas à de escravo.

Em 2023, o pecuarista foi multado em R$ 300 mil por manter casal em chiqueiro, sem alimentação e bebendo água do rio. Na ocasião, o caso foi investigado pela Polícia Civil, com o apoio da Polícia Militar Ambiental.

A investigação sobre os incêndios ressalta que o ponto de ignição do incêndio investigado não foi feito no interior da propriedade de Carlinhos Boi, mas que há indícios baseados em laudos e registros dos policiais federais de que ele e seus filhos tenham iniciado as chamas.

 

 
 
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