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Queda da janela, envenenamento e acidente aéreo: as mortes suspeitas de magnatas, opositores e ex-aliados de Putin na Rússia
Morte de ministro demitido pelo presidente é o episódio mais recente de uma série de mortes em circunstâncias suspeitas. Relembre episódios marcantes.
Publicado em 17/07/2025 01:00
Brasil

Roman Starovoit, ex-ministro dos Transportes da Rússia, demitido pelo presidente Vladimir Putin, passou a integrar a longa lista de autoridades russas que, segundo o governo, teriam tirado a própria vida. O caso aconteceu na segunda-feira (7) e repercutiu em todo o mundo.

Nos últimos anos, a imprensa russa noticiou uma série de suicídios envolvendo autoridades ligadas a Putin, além de opositores do presidente e até magnatas. O governo da Rússia também foi acusado de ter encomendado mortes de críticos e adversários políticos.

Casos recentes incluem a morte de Yevgeny Prigozhin, mercenário que liderou o grupo Wagner e teve grande importância no início da guerra contra a Ucrânia, mas que rompeu com Putin pouco antes de morrer em um acidente aéreo.

Outro caso emblemático foi a morte do opositor Alexei Navalny, que estava preso. O governo russo afirma que ele morreu de causas naturais. No entanto, Navalny já havia sobrevivido a um envenenamento no passado, e a família dele diz que o opositor foi assassinado.

O governo russo nega envolvimento nas mortes de opositores e costuma usar a imprensa estatal para noticiar supostos suicídios de autoridades ou personalidades, afirmando que os casos estão sendo investigados.

 

Nesta reportagem, você vai ver em detalhes alguns casos:

 

 

1. Roman Starovoit, ministro demitido

 

Roman Starovoit em foto há exatamente um mês, no dia 7 de maio de 2025 — Foto: REUTERS/Maxim Shemetov/Foto de arquivo

Roman Starovoit em foto há exatamente um mês, no dia 7 de maio de 2025 — Foto: REUTERS/Maxim Shemetov/Foto de arquivo

Roman Starovoit foi encontrado morto na região de Moscou horas depois de ser demitido do cargo de ministro dos Transportes. O corpo dele foi achado em meio a arbustos na segunda-feira, segundo a imprensa local.

O jornal russo “Izvestiya”, citando uma fonte anônima, afirmou que Starovoit atirou em si mesmo. Outros meios de comunicação russos disseram que uma pistola pertencente a ele foi encontrada ao lado do corpo.

Em coletiva na terça-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o governo russo está "chocado" com a morte de Starovoit.

Starovoit foi nomeado ministro dos Transportes em maio de 2024, após passar quase cinco anos como governador da região de Kursk, na fronteira com a Ucrânia.

De acordo com uma fonte da agência de notícias Reuters, a posição de Starovoit estava em questão há meses, não por questões específicas de transporte, mas por escândalos de corrupção em Kursk.

Poucos meses após Starovoit deixar o cargo de governador de Kursk, tropas ucranianas cruzaram a fronteira.

 

 

2. Alexei Navalny, opositor de Putin

 

Foto de arquivo mostra Alexei Navalny durante protestos em 29 de fevereiro de 2020 — Foto: Pavel Golovkin/AP

Foto de arquivo mostra Alexei Navalny durante protestos em 29 de fevereiro de 2020 — Foto: Pavel Golovkin/AP

Alexei Navalny morreu em fevereiro de 2024 em uma colônia penal no Ártico. Ele tinha 47 anos e era um dos principais opositores de Vladimir Putin. Em um laudo, o governo russo afirmou que o político morreu de causas naturais.

À época, o Serviço Penitenciário da Rússia disse em comunicado que Navalny se sentiu mal durante uma caminhada e perdeu a consciência. Segundo a agência russa Tass, ele foi levado ao hospital, e socorristas tentaram reanimá-lo por 30 minutos.

Navalny ficou famoso por fazer acusações de corrupção contra o governo Putin. Em 2010, liderou um movimento que levou milhares de pessoas às ruas. Ele chegou a ser pré-candidato à Presidência, mas foi impedido de concorrer às eleições.

Por pelo menos duas vezes, em um intervalo de dois anos, Navalny foi alvo de tentativas de envenenamento. Em um dos casos, em 2020, o opositor passou mal em um voo e foi levado às pressas para a UTI. Mais tarde, descobriu-se que agentes químicos haviam sido implantados na cueca dele.

Após a morte na prisão, em 2024, a família de Navalny acusou o governo russo de assassinato. A União Europeia e os Estados Unidos também responsabilizaram a Rússia pela morte. Moscou negou as acusações.

 

 

3. Yevgeny Prigozhin, ex-aliado de Putin

 

Yevgeny Prigozhin lidera o Wagner, grupo usado por Putin na guerra na Ucrânia — Foto: Reuters

Yevgeny Prigozhin lidera o Wagner, grupo usado por Putin na guerra na Ucrânia — Foto: Reuters

Yevgeny Prigozhin morreu em agosto de 2023, após o avião em que ele estava cair perto de Moscou. Ele era chefe do grupo de mercenários Wagner, que batalhou ao lado da Rússia na guerra contra a Ucrânia.

Prigozhin tinha 62 anos e era amigo íntimo de Putin até poucos meses antes de morrer. Os dois romperam após o grupo Wagner iniciar uma campanha para destituir o ministro da Defesa da Rússia em junho de 2023.

A crise começou quando Prigozhin acusou o governo russo de promover um ataque contra acampamentos da organização na Ucrânia. O chefe do grupo mercenário prometeu retaliar o bombardeio e iniciou uma marcha em direção a Moscou.

Em 24 horas, o grupo Wagner organizou uma rebelião, derrubou um helicóptero russo e tomou o controle de uma cidade no sul do país. Diante da ameaça, a segurança em Moscou foi reforçada, e Putin classificou o caso como uma “facada nas costas”.

A crise terminou após um acordo entre o governo e os mercenários, mediado por Belarus. Enquanto os mercenários abandonaram o motim, a Rússia prometeu retirar acusações criminais e não perseguir nenhum dos integrantes do movimento.

Dois meses depois, Prigozhin morreu no acidente aéreo junto de outras nove pessoas, incluindo um de seus principais aliados. Militares dos EUA ouvidos pelo jornal “The New York Times” afirmaram que a queda foi provocada por uma explosão, provavelmente causada por uma bomba ou combustível adulterado.

O governo russo alega que as causas da queda estão sendo investigadas.

 

 

4. Alexander Litvinenko, ex-espião russo

 

Retrato de Alexander Litvinenko em novembro de 1998, quando integrava o serviço de segurança russo FSB — Foto: Vasily Djachkov/Reuters/Arquivo

Retrato de Alexander Litvinenko em novembro de 1998, quando integrava o serviço de segurança russo FSB — Foto: Vasily Djachkov/Reuters/Arquivo

Alexander Litvinenko foi morto em novembro de 2006, em Londres. Ele era um ex-agente do serviço secreto russo e foi envenenado, segundo as autoridades britânicas.

Litvinenko foi espião da KGB durante a época da União Soviética e continuou trabalhando como agente do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) após o colapso do bloco. Putin assumiu o comando do órgão na década de 1990, antes de se tornar presidente.

Em 1998, ele e outros agentes do FSB acusaram o governo de montar um complô para matar o oligarca Boris Berezovsky, que era ex-aliado de Putin. Litvinenko foi alvo de um processo e fugiu da Rússia após ser absolvido.

O ex-espião conseguiu asilo no Reino Unido, onde passou a morar nos anos 2000. Nos anos seguintes, atuou como investigador independente e crítico do governo russo. Em novembro de 2006, adoeceu repentinamente. Antes de morrer, ele acusou Putin de tê-lo envenenado.

Uma investigação apontou que Litvinenko foi envenenado com polônio-210, um material radioativo disponível apenas em instalações nucleares. O elemento teria sido colocado em uma xícara de chá servida em um hotel.

Segundo a AFP, quando morreu, Litvinenko estava trabalhando para a agência de espionagem britânica e ajudava no combate à máfia russa. Em 2021, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou a Rússia responsável pela morte de Litvinenko e determinou o pagamento de uma indenização.

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