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Vladmir Herzog ganha homenagens 50 anos após sua morte no Doi-Codi
Documentário e Calçadão do Reconhecimento são lançados em São Paulo
Radioagência Nacional - Por Camila Boehm
Publicado em 25/10/2025 22:11
Brasil
© Instituto Conhecimento Liberta/Divulgação

Há 50 anos, o jornalista Vladimir Herzog apresentava-se voluntariamente no Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura militar subordinado ao exército, onde foi preso sem ordem judicial. Horas depois, após ser interrogado sob tortura, foi morto pelo Estado brasileiro, em 25 de outubro de 1975. O assassinato de Vlado, que era diretor de jornalismo da TV Cultura, foi um marco que gerou grande mobilização contra a repressão e de luta pela democracia.

Cinco décadas após sua execução, produções inéditas contribuem para a preservação do legado, incluindo o lançamento de um documentário e de um podcast, além de uma ferramenta que utiliza inteligência artificial para simular respostas na voz de Vlado, com base no acervo de produções do jornalista. O documentário A Vida de Vlado: 50 Anos do Caso Herzog, produzido pela TV Cultura, vai ao ar na emissora neste sábado, a partir das 11h.

A produção que traz materiais inéditos, conta a história da família Herzog e a vida de Vladimir até sua morte. Além de mostrar o legado da vida do jornalista, mantido pelo Instituto Vladimir Herzog. Diretora de jornalismo da TV Cultura, Marília Assef, contou que o filme traz fotos e documentos inéditos, além de entrevistas com pessoas que trabalharam e conviveram com Vlado.

"O documentário mostra documentos inéditos, fotos inéditas, perfis de pessoas que trabalharam com ele, assim, contando exatamente como ele era, né? como ele agia, como ele conversava com as pessoas".

O documentário resgata ainda filmes raros gravados durante o culto ecumênico na Catedral da Sé, em 31 de outubro de 1975, quando mais de 8 mil pessoas se reuniram para um ato em homenagem a Herzog, conduzido por líderes religiosos como o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o reverendo Jamie Wright. Com o apoio do jornalista Aldálio Dantas, então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

O evento tornou-se símbolo da resistência democrática. Já no podcast o caso Herzog, a foto e a farsa, o jornalista Camilo Vannuchi entrevista o fotógrafo Silvaldo Leong, que fez a imagem do corpo de Vlado pendurado no Doi-Codi.

"E a gente teve a oportunidade agora de ir, pegar o Silvaldo e ir com ele no Doi-Codi, no mesmo corredor, na mesma cela para ele reconstituir aquele episódio. A foto é uma farsa, simularam o suicídio com o Herzog pendurado numa janela com o suposto cinto de pano que faria parte do uniforme dos presos, mas o uniforme da carceragem do Doi-Codi não tinha cinto. E sobretudo essa janela do Doi-Codi onde ele foi pendurado, essa janela tem 1,63 m. Ela é mais baixa do que o próprio Herzog. É toda uma situação que é inconcebível segundo todos os especialistas, os médicos".

A produção conta também com entrevistas, documentos e áudios inéditos. Também o jornalista Paulo Markun, que era amigo e trabalhava com ele na TV Cultura, desenvolveu uma ferramenta com uso da inteligência artificial que cria respostas com a voz de Vlado, a partir de materiais produzidos por ele ao longo de sua vida. Markun, que estava preso no Doi-Codi na data do assassinato de Herzog, relembra que houve até o inquérito para mascarar o crime.

"Me botaram depois numa sala com outros jornalistas que estavam presos, o chefe do Doi-Codi e alguns interrogadores e apresentaram ali uma versão que era: do lado era da KGB, agente secreto russo, era do Partido Comunista, tinha se suicidado e os comandantes do partido não eram aqueles que a gente imaginava e sim um general, um governador, um cardeal. Tudo isso era uma farsa e uma ficção. A gente tentou argumentar ali na discussão com esses homens, né? Mas eles insistiam que ele tinha se matado. Para a imprensa publicaram uma foto que todo mundo já viu do lado enforcado com as pernas arqueadas, né? E houve até um inquérito para mascarar o assassinato dele".

E no domingo (26), o Calçadão do Reconhecimento será inaugurado na Praça Memorial Vladimir Herzog em São Paulo. Trata-se de uma intervenção permanente no espaço, com a instalação no piso dos nomes de todas as pessoas e coletivos vencedores do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais importantes do país.

Uma das homenagens será ao conjunto dos trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que recebeu, em 2022, o Prêmio Especial Vladimir Herzog Contribuição ao Jornalismo, pela resistência na defesa da comunicação pública. O reconhecimento decorreu da atuação dos profissionais durante o governo de Jair Bolsonaro, quando a censura, o governismo e a perseguição foram disseminadas na empresa.

Fonte: Radioagência Nacional
Esta notícia foi publicada respeitando as políticas de reprodução da Radioagência Nacional.
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